sábado, 27 de maio de 2017

O "Trapo Azul"


Transcrevemos da "Apresentação da primeira edição do romance, "Trapo Azul", publicado em 1948, as palavras de Romeu Correia. Desta vez ele não fala da Incrível, mas de um grande Incrível, Alberto de Araújo, o patrono da nossa Biblioteca:

«Na pacata vila de Almada, que por esses tempos não ia além de trinta mil almas, passei ao papel uma longa história das pobres costureiras dos fatos de ganga para os operários, profissão-último recurso, sujeita à mais desenfreada exploração das mestras, que nalguns casos (por paradoxo que pareça!) eram mulheres ou filhas de… operários.
A falta de consciência de classe tem sido uma constante anti-revolucionária do povo português; a mentalidade pequeno-burguesa uma alienação, uma nódoa imperceptível, que alastra, traiçoeira, por todos os lados- A fome e o frio sofridos na carne não são vistos como uma flagrante e intolerável injustiça social a que devemos pôr fim. [...]

Outro amigo de quem desejei ouvir uma opinião sobre o texto foi o Dr. Alberto Emílio de Araújo, dois anos antes libertado do campo de concentração do Tarrafal. Professor liceal, de sólida cultura humanista, tinha uma perspectiva  marxista da sociedade como raros neste país. Militante do Partido Comunista Português, pertenceu ao seu comité Central durante anos. O regresso deste filho querido a Almada fora um acontecimento local do pós-guerra. Éramos vizinhos e amigos, por isso lhe pedi opinião sobre o meu manuscrito. Mas a sua frágil e conturbada saúde sofrendo crises sucessivas, tivera por essa altura uma das mais graves recaídas. E fora forçado a recolher-se ao Hospital dos Capuchos para extrair um rim. Com mágoa minha, o Alberto Araújo, só pôde ler o Trapo Azul., impresso, um ano depois.»

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